quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

MUJER Y GATA
Paul verlaine

La sorprendí jugando con su gata,
y contemplar causóme maravilla
la mano blanca con la blanca pata,
de la tarde a la luz que apenas brilla.

¡Como supo esconder la mojigata,
del mitón tras la negra redecilla,
la punta de marfil que juega y mata,
con acerados tintes de cuchilla!

Melindrosa a la par por su compañera
ocultaba también la garra fiera;
y al rodar (abrazadas) por la alfombra,

un sonoro reír cruzó el ambiente
del salón... y brillaron de repente
¡cuatro puntos de fósforo en la sombra!

Versión de Guillermo Valenc
ia

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008


PRIMEIRA TARDE
Arthur Rimbaud
Tradução: Ivo Barroso

Era bem leve a roupa dela
E um grande ramo muito esperto
Lançava as folhas na janela
Maldosamente, perto, perto.

Quase desnuda, na cadeira,
Cruzavas as mãos, e os pequeninos
Pés esfregava na madeira
Do chão, libertos finos, finos.

— Eu via pálido, indeciso,
Um raiozinho em seu gazeio
Borboletear em seu sorriso
— Mosca na rosa — e no seu seio.

— Beijei-lhe então os tornozelos.
Deu ela um riso inatural
Que se esfolhou em ritornelos,
Um belo riso de cristal.

Depressa, os pés na camisola
Logo escondeu: "Queres parar!"
Primeira audácia que se implora
E o riso finge castigar!

Sinto-lhe os olhos palpitantes
Sob os meus lábios. Sem demora,
Num de seus gestos petulantes,
Volta a cabeça: "Ora, esta agora!..."

"Escuta aqui que vou dizer-te..."
Mas eu lhe aplico junto ao seio
Um beijo enorme, que a diverte
Fazendo-a rir agora em cheio...

— Era bem leve a roupa dela
E um grande ramo muito esperto
Lançava as folhas na janela
Maldosamente, perto, perto.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008




Fruição
Ricardo Sant'Anna Reis

Dormir de lado respirar, amar
olhar para um céu que se azula
assim, sem mais, nem menos...

Ah, quão grandes são
os prazeres pequenos!


quinta-feira, 11 de dezembro de 2008


Pétala
Victor Barone

Cai a pétala cara a mim.
Rodopia no ar
criando nuances e cores
de pétala que vai.

É rubra enquanto cai, a pétala
que boiando no ar
tornar-se-á exangue.

Como dói ao olhar
o frenético sangrar
da flor voante.

Como sarar em meu corpo
o perene partir desta cor...?

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Florbela Espanca

Realidade

Em ti o meu olhar fez-se alvorada
E a minha voz fez-se gorgeio de ninho...
E a minha rubra boca apaixonada
Teve a frescura pálida do linho...

Embriagou-me o teu beijo como um vinho
Fulvo de Espanha, em taça cinzelada...
E a minha cabeleireira desatada
Pôs a teus pés a sombra dum caminho...

Minhas pálpebras são cor de verbena,
Eu tenho os olhos garços, sou morena,
E para te encontrar foi que eu nasci...

Tens sido vida fora o meu desejo
E agora, que te falo, que te vejo,
Não sei se te encontrei... se te perdi..