quarta-feira, 26 de novembro de 2008
Arthur Rimbaud
No inverno, iremos num vagãozinho rosa
Com almofadas azuis.
Estaremos bem. Um ninho de beijos loucos repousa
Em todos os cantos macios.
Fecharás o olho, para não ver, pelo espelho,
As caretas das sombras noturnas,
Estas monstruosidades raivosas, grupelho
De lobos negros e demônios soturnos.
Depois sentirás a bochecha arranhada...
Um beijinho vai percorrer, como louca aranha,
De teu pescoço o canto...
E me dirás: "Procura!" inclinando a cabeça,
— E levaremos tempo para encontrar esta possessa
— Que viaja tanto...
Charles Baudelaire
Divaga em meio à noite a lua preguiçosa;
Como uma bela, entre coxins e devaneios,
Que afaga com a mão discreta e vaporosa,
Antes de adormecer, o contorno dos seios.
No dorso de cetim das tenras avalanchas,
Morrendo, ela se entrega a longos estertores,
E os olhos vai pousando sobre as níveas manchas
Que no azul desabrocham como estranhas flores.
Se às vezes neste globo, ébria de ócio e prazer,
Deixa ela uma furtiva lágrima escorrer,
Um poeta caridoso, ao sono pouco afeito,
No côncavo das mãos toma essa gota rala,
De irisados reflexos como um grão de opala,
E bem longe do sol a acolhe no seu peito.
terça-feira, 25 de novembro de 2008
Mariposas
Silvio Rodrigues
Hoy viene a ser como la cuarta vez que espero
desde que se que no vendrás mas nunca
he vuelto a ser aquel cantor del aguacero
que hizo casi legal su abrazo a tu cintura.
y tu apareces, en mi ventana
suave y pequeña, con alas blancas
yo ni te miro, para que duermas
y no te vayas.
Que maneras mas curiosas
de recordar tiene uno
que maneras mas curiosas
hoy recuerdo mariposas
que ayer solo fueron humo
mariposas, mariposas
que emergieron de lo oscuro
bailarinas, silenciosas...
Tu tiempo es ahora una mariposa
navecita blanca, delgada, nerviosa
siglos atrás inundaron un segundo
debajo del cielo, encima del mundo.
Así eras tu en aquella tarde, divertida
así eras tu de furibunda compañera
eras como esos días en que eres la vida
y todo lo que tocas se hace primavera
ay mariposa!, tu eres el alma
de los guerreros que aman y cantan
y eres el nuevo ser, que hoy se asoma
por mi garganta.
Que maneras mas curiosas
de recordar tiene uno
que maneras mas curiosas
hoy recuerdo mariposas
que ayer solo fueron humo
mariposas, mariposas
que emergieron de lo oscuro
bailarinas, silenciosas...
Tu tiempo es ahora una mariposa
navecita blanca, delgada, nerviosa
siglos atrás inundaron un segundo
debajo del cielo, encima del mundo.
Dançarina Espanhola
Rainer Maria Rilke
Como um fósforo a arder antes que cresça
a flama, distendendo em raios brancos
suas línguas de luz, assim começa
e se alastra ao redor, ágil e ardente,
a dança em arco aos trêmulos arrancos.
E logo ela é só flama, inteiramente.
Com um olhar põe fogo nos cabelos
e com a arte sutil dos tornozelos
incendeia também os seus vestidos
de onde, serpentes doidas, a rompê-los,
saltam os braços nus com estalidos.
Então, como se fosse um feixe aceso,
colhe o fogo num gesto de desprezo,
atira-o bruscamente no tablado
e o contempla. Ei-lo ao rés do chão, irado,
a sustentar ainda a chama viva.
Mas ela, do alto, num leve sorriso
de saudação, erguendo a fronte altiva,
pisa-o com seu pequeno pé preciso.
When a Man Loves a Woman- Percy Sledge
domingo, 23 de novembro de 2008
Let's do it !!!
Quanto de amor é preciso
Para desentranhar desse rosto
A palavra com sede
A palavra que trará outra vez
A sombra para abaixo das árvores
És assim,
Esse ouvido árido
Esse esquecimento mesquinho
De que a vida é esse momento
Em que te encontro
De que a vida
Ela não pode ser outra coisa
Além de nós dois
Quando estamos juntos
Jamais me traia
Jamais, com a rosa na boca
Entres pelo meu corpo
A confundir os meus traços
E a embaraçar os meus passos
Jamais, com as mãos sobre as folhas
Me descubras sem vestimentas
Para expor minha nudez pálida
Tu sabes que querem de nós
Toda a intimidade
Tu sabes de mim
O que ainda para mim é oculto
Tu sabes o que eu virei a ser
Por isso, jamais me abandones
Com a rosa embaixo do vestido
Presa nas virilhas
Dê-me desse cheiro
Durma-me nesse ventre cheio de frutas
Que vinho novo esse teu buquê translúcido
Te dou de minhas carnes
Para que te embebas
Quando o gozo vier
Como um verão guardado embaixo dos lençóis
Quero ainda teu beijo de chuva fina
Quero seu grito animalesco
Como um pomar que se enche de vida
É assim no teu ventre
Quando confundo nossos seres
E um vento bate na cama
E de repente
Já és uma flor ou uma arma
E eu já sou menino
Brincando
Brincando e brincando
(Rogério B. Andrade)
sábado, 22 de novembro de 2008
Quantas vezes eu assassinei o amor?
Fabrício Carpinejar
O amor nunca morre de morte natural. Añais Nin estava certa.
Morre porque o matamos ou o deixamos morrer.
Morre envenenado pela angústia. Morre enforcado pelo abraço. Morre esfaqueado pelas costas. Morre eletrocutado pela sinceridade. Morre atropelado pela grosseria. Morre sufocado pela desavença.
Mortes patéticas, cruéis, sem obituário e missa de sétimo dia.
Mortes sem sangramento. Lavadas. Com os ossos e as lembranças deslocados.
O amor não morre de velhice, em paz com a cama e com a fortuna dos dedos.
Morre com um beijo dado sem ênfase. Um dia morno. Uma indiferença. Uma conversa surda. Morre porque queremos que morra. Decidimos que ele está morto. Facilitamos seu estremecimento.
O amor não poderia morrer, ele não tem fim. Nós que criamos a despedida por não suportar sua longevidade. Por invejar que ele seja maior do que a nossa vida.
O fim do amor não será suicídio. O amor é sempre homicídio. A boca estará estranhamente carregada.
Repassei os olhos pelos meus namoros e casamentos. Permiti que o amor morresse. Eu o vi indo para o mar de noite e não socorri. Eu vi que ele poderia escorregar dos andares da memória e não apressei o corrimão. Não avisei o amor no primeiro sinal de fraqueza. No primeiro acidente. Aceitei que desmoronasse, não levantei as ruínas sobre o passado. Fui orgulhoso e não me arrependi. Meu orgulho não salvou ninguém. O orgulho não salva, o orgulho coleciona mortos.
No mínimo, merecia ser incriminado por omissão.
Mas talvez eu tenha matado meus amores. Seja um serial killer. Perigoso, silencioso, como todos os amantes, com aparência inofensiva de balconista. Fiz da dor uma alegria quando não restava alegria.
Mato; não confesso e repito os rituais. Escondo o corpo dela em meu próprio corpo. Durmo suando frio e disfarço que foi um pesadelo. Desfaço as pistas e suspeitas assim que termino o relacionamento. Queimo o que fui. E recomeço, com a certeza de que não houve testemunhas.
Mato porque não tolero o contraponto. A divergência. Mato porque ela conheceu meu lado escuro e estou envergonhado. Mato e mudo de personalidade, ao invés de conviver com minhas personalidades inacabadas e falhas.
Mato porque aguardava o elogio e recebia de volta a verdade.
O amor é perigoso para quem não resolveu seus problemas. O amor delata, o amor incomoda, o amor ofende, fala as coisas mais extraordinárias sem recuar. O amor é a boca suja. O amor repetirá na cozinha o que foi contado em segredo no quarto. O amor vai abrir o assoalho, o porão proibido, fazer faxina em sua casa. Colocar fora o que precisava, reintegrar ao armário o que temia rever.
O amor é sempre assassinado. Para confiarmos a nossa vida para outra pessoa, devemos saber o que fizemos antes com ela.
terça-feira, 18 de novembro de 2008
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
Detener la palabra
Detener la palabra
un segundo antes del labio,
un segundo antes de la voracidad compartida,
un segundo antes del corazón del otro,
para que haya por lo menos un pájaro
que puede prescindir de todo nido.
El destino es de aire.
Las brújulas señalan uno solo de sus hilos,
pero la ausencia necesita otros
para que las cosas sean
su destino de aire.
La palabra es el único pájaro
que puede ser igual a su ausencia.
Déjeuner du matin
Jacques Prévert
Il a mis le café
Dans la tasse
Il a mis le lait
Dans la tasse de café
Il a mis le sucre
Dans le café au lait
Avec la petite cuiller
Il a tourné
Il a bu le café au lait
Et il a reposé la tasse
Sans me parler
Il a allumé
Une cigarette
Il a fait des ronds
Avec la fumée
Il a mis les cendres
Dans le cendrier
Sans me parler
Sans me regarder
Il s'est levé
Il a mis
Son chapeau sur sa tête
Il a mis son manteau de pluie
Parce qu'il pleuvait
Et il est parti
Sous la pluie
Sans une parole
Sans me regarder
Et moi j'ai pris
Ma tête dans ma main
Et j'ai pleuré.
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
A MEDIA LUZ
Corrientes tres cuatro ocho,
segundo piso, ascensor;
no hay portero ni vecinos
adentro, cocktel y amor.
Pisito que puso Maple,
piano, estera y velador...
un telefon que contesta,
una vitrola que llora
viejos tangos de mi flor,
y un gato de porcelana
pa que no maulle el amor.
Y todo a media luz,
es un brujo el amor,
a media luz los besos,
A media luz los dos...
Y todo a media luz,
crepusculo interior,
que suave terciopelo
la media luz de amor.
Juncal doce veinticuatro,
Telefonea sin temor;
de tarde, te con masitas,
de noche, tango y cantar;
los domingos, te danzante,
los lunes, desolación.
Hay de todo en la casita:
almohadones y divanes
Como en Botica Coco,
alfombras que no hacen ruido
y mesa puesta al amor...
Y todo a media luz,
crepusculo interior,
que suave terciopelo
la media luz de amor.
Tango "A media luz", letra de Carlos César Lenzi, música de Edgardo Donatto, gravação original de Carlos Gardel,composto em 1925.
terça-feira, 11 de novembro de 2008
Desnudos
Efraín Alzate
Desnudos caminamos la playa
y el sol se enamora
de la luna plateada.
Desnudos el jardín nos vigila
y la flor más hermosa
regala su aroma.
Desnudos... el pecado se asoma
por la ventana divina
del amor prohibido.
Desnudos... la piel se sonroja
con la caricia viajera
del deseo infinito.
Desnudos... aparece el pecado
y nuestros cuerpos se entregan
a la pasión sin fronteras.
Desnudos... nos sorprende la aurora
y una leve sonrisa
musita un... te quiero
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
Chico Buarque
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca quando me beija a boca
A minha pele toda fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos, viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois brinca comigo, ri do meu umbigo
E me crava os dentes
Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que me deixa maluca, quando me roça a nuca
E quase me machuca com a barba mal feita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios, de me beijar os seios
Me beijar o ventre e me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo como se o meu corpo
Fosse a sua casa
Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz.
Florbela Espanca
Horas rubras
Horas profundas, lentas e caladas
Feitas de beijos sensuais e ardentes,
De noites de volúpia, noites quentes
Onde há risos de virgens desmaiadas
Ouço as olaias rindo desgrenhadas
Tombam astros em fogo, astros dementes.
E do luar os beijos languescentes
São pedaços de prata p'las estradas
Os meus braços são leves como afagos,
Vestiu-os o luar de sedas puras
Sou chama e neve branca misteriosa
E sou talvez, na noite voluptuosa,
Ó meu Poeta, o beijo que procuras!