quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Intimidad - Mario Benedetti


(Mujer en el baño. Cuadro de Pierre Bonnard)

Soñamos juntos
juntos despertamos
el tiempo hace o deshace
mientras tanto
no le importan tu sueño
ni mi sueño
somos torpes
o demasiado cautos
pensamos que no cae
esa gaviota
creemos que es eterno
este conjuro
que la batalla es nuestra
o de ninguno
juntos vivimos
sucumbimos juntos
pero esa destrucción
es una broma
un detalle una ráfaga
un vestigio
un abrirse y cerrarse
el paraíso
ya nuestra intimidad
es tan inmensa
que la muerte la esconde
en su vacío
quiero que me relates
el duelo que te callas
por mi parte te ofrezco
mi última confianza
estás sola
estoy solo
pero a veces
puede la soledad
ser una llama.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Te quería, lo sé - Julio Mariscal Montes

(Imagem da Net)
Te quería, lo sé.
Lo supe luego, cuando tu ausencia reposó mi sangre.
Pero andaba la lepra del deseo tan aína en el labio
que iba a decir - estrella -,
y se trocaba en madrugada de coñac y sombra...
Y ahora que vuelve el viento de las cinco
a levantar castillos en mi frente,
y las nubes de otoño arremolinan tu recuerdo
en el cuenco de mi mano,
necesito vestir mi voz de tarde
con citas y alamedas de domingo,
para decirte, amor, cómo te quise,
cómo te quiero todavía,
aunque sé que mi voz ha de perderse
en el largo sahara de tu olvido...

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Francesca - Ezra Pound


Fotografia: Francesca Woodman

Saliste de la noche
y había flores en tus manos;
ahora surgirás de una confusa muchedumbre,
de un tumulto de rumores en torno a ti.


Yo que te vi entre las cosas primordiales,
me enfurecía al oír que te nombraban
en sitios ordinarios.
Hubiera querido que las olas frías inundaran mi espíritu
y el mundo se secara como una hoja muerta
o una vaina de amargón, y lo barrieran lejos,
para hallarte de nuevo
sola. 


En Ezra Pound, Cantares y otros poema
Buenos Aires, CEAL, 1988T
Traducción: Gerardo Gambolini


sábado, 19 de junho de 2010

Anjo - Victor Barone

Uma vez
um anjo solitário
impregnou meu paladar de

luz.


Esteve em minha língua,
por quase uma vida,
este sabor
picante.

Desde então relembro
o terno toque
da língua do anjo
a encher minha alma
de luz.

Uma vez
um anjo solitário
arrancou de mim o que fui.
Esteve em minha retina
por quase uma vida
este sabor
sangue.



'Anjo' está  no livro "Outros Sentidos"- Victor Barone (07/2008)


sábado, 5 de junho de 2010

BLUSA FÁTUA - Vladímir Maiakóvski


Imagem: Andy warhol


Costurarei calças pretas
com o veludo da minha garganta
e uma blusa amarela com três metros de poente.
pela Niévski do mundo, como criança grande,
andarei, donjuan, com ar de dândi.

Que a terra gema em sua mole indolência:
"Não viole o verde das minhas primaveras!"
Mostrando os dentes, rirei ao sol com insolência:
"No asfalto liso hei de rolar as rimas veras!"

Não sei se é porque o céu é azul celeste
e a terra, amante, me estende as mãos ardentes
que eu faço versos alegres como marionetes
e afiados e precisos como palitar dentes!

Fêmeas, gamadas em minha carne, e esta
garota que me olha com amor de gêmea,
cubram-me de sorrisos, que eu, poeta,
com flores os bordarei na blusa cor de gema!


(Tradução: Augusto de Campos)

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Fiat - Gabriel Archanjo de Mendonça


Vestir a pele inconsútil da cariátide
e vencer o inseto obscuro
na noite definitiva.

Sorver a verticalidade nua
e transpirar o sol da estátua antiga
que a virtude não concebe.

Retalhar-se em moléculas de gozo
e consumir-se na luz.




quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Tu - Murilo Mendes


(Imagem:desconheço autoria)

Espero-te desde o começo,
Desde o tempo das pianolas,
Desde a luz de querosene.

És meu amor triste e lúcido,
Por ti me vinguei da vida,
Matei a figura estéril
E fiz a pedra florir.

Céu e terra se tocaram
Com grande aplauso do fogo,
Ondas bravas se abraçavam
No início do nosso idílio.

Áspera e doce criatura,
És o arquétipo encarnado
Das mulheres oceânicas
E ao mesmo tempo tranqüilas.

Nosso amor será uma luta:
Ao som de clarins vermelhos
Subiremos pelo arco-íris
Semimortos de paixão,
Até encontrarmos o Hóspede.