sábado, 28 de junho de 2008

Dá a Surpresa de ser - Fernando Pessoa

Dá a surpresa de ser
(Fernando Pessoa)


Dá a surpresa de ser.
É alta, de um louro escuro,
faz bem só pensar em ver
seu corpo meio maduro.

Seus seios altos parecem
(se ela estivesse deitada)
dois montinhos que amanhecem
sem ter que haver madrugada.

E a mão do seu braço branco
assenta em palmo espalhado
sobre a saliência do flanco
do seu relevo tapado.

Apetece como um barco.
Tem qualquer coisa de gnomo.
Meu Deus, quando é que eu embarco?
Ó fome, quando é que eu como?

2 comentários:

Marcelo disse...

Muito bom! gostei muito...

Nothingandall disse...

O segundo verso da última quadra necessita de ser corrigido é «Tem qualquer coisa de gomo.». Gomo e não gnomo. De qualquer modo gostei de ver o nosso grande poeta representado por aqui. Uma boa semana cheia de flores, sorrisos e ...poesia :)