quinta-feira, 26 de março de 2009

O cinzel caído ( Rogério Barbosa Andrade)

Man Ray
Por que, amor, recorres
Ao meu cinzel caído?
Por que vieste a mim
Ignorando a porta que me fechava
Por que puseste tuas bandeirolas
Na minha janela soterrada?

Vieste ter com as raízes
Vieste à minha cama para morrer?
Vieste dividir essa apertada sepultura
Por onde caminho descalço?
Com meu coração de mofo
Ou minha estátua de pétalas queimadas?

Querias te juntar ao meu peito gelado?
Ou que desenhássemos uma casa beijada pelo sol
Perante a qual
Endurecidos os queixos
Choraríamos juntos?

Amor,
De longe eu ouvia o tambor
Que teu passo notívago destoava
E acendi uma fogueira para me queimar
Mas tu vinhas e chegavas
Com uma orquestra rota
E teu instrumento de fogo e sobressalto
Era de água
Teus tambores de quartzo e cortiça
E sol partido
Nas cordas dos violinos
Que minha forca cortejava
Improvisavas sonhos

Mas do meu solar subterrâneo
Te forçaram a sair
E foram meus cães
E eu dormi para sempre
A babar o meu lençol ferido.

Um comentário:

Moacy Cirne disse...

Man Ray é um dos gênios do século XX.

Um beijo.