quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Man Ray
Meus olhos têm telescópios
espiando a rua,
espiando minha alma
longe de mim mil metros.

Mulheres vão e vêm nadando
em rios invisíveis.
Automóveis como peixes cegos
compõem minhas visões mecânicas.

Há vinte anos não digo a palavra
que sempre espero de mim.
Ficarei indefinidamente contemplando
meu retrato eu morto.


MELO NETO, João Cabral de. O cão sem plumas. In: Pedra do sono (1940-1941). Rio de Janeiro, Alfaguara/Objetiva, 2007. p. 23.

2 comentários:

Moacy Cirne disse...

João Cabral e Murilo Mendes, para mim, são os maiores poetas brasileios do século XX.

Um beijo.

Anônimo disse...

Ei, eu tentei e-mail pertencentes a este post, mas não são capazes de chegar até você. Por favor email-me quando chegar um momento. Graças.