Meus olhos têm telescópios
espiando a rua,
espiando minha alma
longe de mim mil metros.
Mulheres vão e vêm nadando
em rios invisíveis.
Automóveis como peixes cegos
compõem minhas visões mecânicas.
Há vinte anos não digo a palavra
que sempre espero de mim.
Ficarei indefinidamente contemplando
espiando a rua,
espiando minha alma
longe de mim mil metros.
Mulheres vão e vêm nadando
em rios invisíveis.
Automóveis como peixes cegos
compõem minhas visões mecânicas.
Há vinte anos não digo a palavra
que sempre espero de mim.
Ficarei indefinidamente contemplando
meu retrato eu morto.
MELO NETO, João Cabral de. O cão sem plumas. In: Pedra do sono (1940-1941). Rio de Janeiro, Alfaguara/Objetiva, 2007. p. 23.
2 comentários:
João Cabral e Murilo Mendes, para mim, são os maiores poetas brasileios do século XX.
Um beijo.
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